sexta-feira, 1 de fevereiro de 2002

«Oito localidades receiam alta tensão»

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No Diário de Notícias*: "Os residentes nas localidades por onde passará a linha de alta tensão que leva a energia eléctrica produzida na central do Carriço, Pombal, contestam o traçado escolhido e querem-na longe das suas casas. Dizem que pode haver um traçado alternativo. Defendem que a linha seja colocada no subsolo, à semelhança de projectos que sabem estar a ser pensados para a região de Lisboa.
Poucos se pronunciam. Quem fala diz "ter medo das consequências que os campos electromagnéticos" possam ter na saúde. António Bronze Pinto, residente em Silveirinha Grande, não se importa de protestar abertamente e lamenta que "as pessoas aceitem tudo". "Nada está provado", recorda. Por isso não aceita a passagem da linha a 20 metros dos logradouros da sua casa. "Se não está provado que faz mal, também não está que não provoca doenças". E explica que foi alertado, tal como outros moradores, para o facto de se atribuir o aparecimento de leucemia e outras doenças a pessoas expostas aos campos electromagnéticos.
"Por se desconhecerem" os efeitos da proximidade da alta tensão é que António Pinto afirma querer apenas que o "deixem em paz". Não quer indemnizações "seja qual for a quantia proposta". Diz que pediu aos técnicos que lhe expliquem as características da estrutura, a potência, a altura a que vai passar a linha e garante que nada lhe forneceram. Questiona: "Foi feito e aprovado o estudo de impacte ambiental para a instalação da fábrica de sal e da central, mas não houve estudo para a passagem da linha".
O presidente da Junta de Freguesia do Carriço, Leovigildo Fernandes, disse ao DN que "não é a população que não quer a passagem da linha, são meia dúzia de pessoas que querem indemnizações". São "interesses privados". Ele também é afectado. Porém, Leovigildo Fernandes, recorda que numa reunião da discussão pública do estudo de impacte ambiental, um técnico da EDP lhe disse que a alternativa que propunham para o traçado não podia ser aceite porque poderia interferir com a monitorização do gasoduto. Esta resposta levou-o a pensar que "afinal algum efeito terá a passagem da energia".
Em causa está a instalação de uma linha de alta tensão para transporte da energia produzida por uma central nas imediações do local da extração do sal para armazenamento da reserva de gás natural. Foram aprovados, na área das minas da Renoeste, os projectos de uma fábrica de sal e de uma central de cogeração. Segundo informação do Ministério da Economia, facultada ao DN em Maio de 2001, a Galp Energia e a EDP, através da GalpPower e da EDP Cogeração, associaram-se para explorar a central. Um investimento que ronda os quatro milhões de contos, destinado à produção de sal e energia térmica e eléctrica. É um sistema que "permitirá à fábrica uma economia muito elevada de energia", sustenta a informação. O Ministério diz que "a cogeração funcionará sempre que a fábrica de sal o justifique e que terá uma potência eléctrica média de 28 MW, dos quais 25 MW irão ser exportados para a rede electrica nacional", através de "uma linha com cerca de nove quilómetros".
Com esse fim está a ser construída a subestação nas imediações da Soporcel, junto à Leirosa. A linha passará por localidadades dos concelhos da Figueira da Foz e Pombal como Matos da Leirosa, Marinha das Ondas, Vale Gigante, Claras, Silveirinha Grande, Siveirinha Pequena, Fontinha e Lagoa do Boi."
*Jacinta Romão